Sequestro de Carbono
24 jan, 2022
OXMA
Você sabe o que é sequestro de carbono?

Reduzir a emissão de gás carbônico (CO2) produzida pelas atividades humanas é, hoje, uma prioridade mundial. Tarefa que, há milhões de anos, cabe às florestas e oceanos, o controle da quantidade dessa substância na atmosfera é fundamental para tentarmos diminuir os efeitos das mudanças climáticas – ou aquecimento global –, causadas, entre outras coisas, pelo uso desenfreado de combustíveis fósseis e pelo desmatamento. Mas, além de reduzir ao máximo as emissões de gases, de preservar as matas e reflorestar, outras formas de enfrentar esse desequilíbrio e de acelerar a retirada do excesso de CO2 do ar estão surgindo. “Sequestrar o carbono” é o termo usado para isso e é esse o nosso assunto neste post.

Antes de irmos em frente, vale lembrar que o CO2, ou dióxido de carbono (molécula formada por dois átomos de oxigênio e um de carbono), está presente no processo fundamental de respiração de boa parte dos seres vivos, incluindo nós, humanos. Relembrando as aulas de biologia da escola: do ar que inspiramos, retiramos o oxigênio e, no ar que expiramos, liberamos exatamente o gás carbônico. Durante o dia, ele também é absorvido pelas plantas, num processo chamado fotossíntese – sendo “trocado” pelo oxigênio, liberado no ar. Apesar disso tudo, o gás carbônico representa apenas 0,035% da composição da atmosfera terrestre. Só para comparar, são 78,08% de nitrogênio, 20,95% de oxigênio e 0,93% de argônio, quantidades bem maiores que as do CO2.

Desequilíbrio

Se pensarmos em nosso planeta como uma grande “casa climatizada”, poderíamos dizer que o gás carbônico – quimicamente conhecido como dióxido de carbono ou CO2, – tem um papel importantíssimo no funcionamento do termostato do ambiente. Afinal, é esse gás um dos principais responsáveis pela manutenção do calor na atmosfera e, sem ele, o mundo seria um lugar bem mais frio – e, provavelmente, inabitável para a imensa maioria das espécies, inclusive a nossa. A regulagem dessa “climatização”, no entanto, é muito delicada. Se houver excesso de CO2, a temperatura sobe mais do que o desejado, gerando o chamado “efeito estufa”, e pode provocar uma série de problemas.

Até o início da chamada Revolução Industrial, em meados dos anos 1700, mesmo com episódios de erupções vulcânicas – quando são liberadas grandes quantidades desse gás –, a proporção do CO2 na atmosfera não sofria alterações significativas. Com a chegada e a multiplicação das indústrias, com máquinas movidas pela queima de combustível fóssil (primeiro, carvão, mais tarde, petróleo, que têm como um de seus resíduos justamente esse gás), as quantidades dele foram crescendo acentuadamente. E, para piorar a situação, florestas, responsáveis por absorver grande parte do gás, passaram a ser eliminadas em um ritmo também crescente.

Para se ter uma ideia, segundo o World Resources Institute (WRI), as florestas do mundo absorvem cerca de 7,6 bilhões de toneladas de CO2 por ano, algo uma vez e meia o que os EUA (segundo maior emissor do mundo), liberam desse gás anualmente na atmosfera. E, nos oceanos, o sequestro de carbono também acontece naturalmente, por meio de processos de calcificação relacionados a organismos marinhos (que, infelizmente, também são prejudicados pelo “efeito estufa”).

A consciência, atitudes e tecnologia
Na segunda metade do século passado, os efeitos desse desequilíbrio começaram a ficar mais claros e, especialmente a partir da Rio 92, um marco em conferências ambientais, boa parte das nações passaram a discutir e planejar ações para enfrentar esse problema. E foi na Conferência de Quioto, em 1997, que se consagrou a ideia de “sequestrar o carbono”, ou seja, limitar e depois diminuir o excesso de dióxido de carbono na atmosfera. Além do estímulo à proteção das florestas e oceanos, nossos principais aliados contra o excesso de CO2 na atmosfera, novas ideias e processos passaram a ser pesquisados e desenvolvidos, incluindo alguns que se propõem a retirar o excesso de gás – e literalmente, sequestrar o carbono nele contido – diretamente do ar. Vamos a alguns deles:

Do ar para o subsolo e a garrafa – Uma empresa suíça chamada Climeworks desenvolveu uma máquina (18 delas já estão em funcionamento), que suga o ar e, por meio de um processo físico-químico, retém o CO2. Em seguida, ele depois pode ser estocado, em estado sólido no subsolo, sob plantações, ou fornecido como insumo à indústria – a Coca-Cola está entre seus clientes e o usa como matéria-prima para uma água mineral gasosa. Segundo a empresa, todo o processo é sustentável e utiliza energia renovável: para cada 100 toneladas de carbono coletadas, apenas 10 toneladas são emitidas.

Produção de combustível – A canadense Carbon Engineering promete retirar até um milhão de toneladas anuais do gás da atmosfera. Para isso, utiliza turbinas e um processo químico que tem como resultado final um pó, que pode ser armazenado. Ou então pode ser combinado ao hidrogênio, gerando um combustível sintético que, segunda a empresa, é mais limpo que os tradicionais por não conter enxofre, e que pode ser utilizado em motores – inclusive de aeronaves. Entre seus investidores, está a gigante de energia (e petróleo) britânica, BHP.

Geração de créditos – Já a norte-americana Global Thermostat (GT) tem como foco grandes instalações industriais tradicionais, onde instalará ou adaptará equipamentos capazes de retirar o CO2 do ar (utilizando baixas temperaturas). Depois, providenciará seu armazenamento no subsolo em um local adequado. A ideia é transformar antigas indústrias vilãs do efeito estufa em “ralos de gás carbônico”. Assim, não só compensarão suas emissões, como gerarão créditos, que poderão ser vendidos no mercado de carbono, impulsionando, assim, a pesquisa de energias renováveis que, mais adiante, substituirão as tecnologias atuais. Entre os clientes que já têm contratos com a GT está outra gigante do petróleo, a Exxon Mobil.

Bolinhas no mar – Em vez de máquinas, a Universidade de Exeter, no Reino Unido, está desenvolvendo um método que utiliza determinadas áreas dos oceanos para capturar o dióxido de carbono. Batizada de SeaCURE (algo como “cura do mar”, em tradução direta), a tecnologia faz com que a água do mar fique temporariamente mais ácida e, dessa forma, que o CO2 nela contido borbulhe. Essas bolhas são coletadas para serem armazenadas e/ou utilizadas como matéria-prima, enquanto a água descarbonizada é mandada de volta ao oceano. Lá, a água absorverá mais gás carbônico do ar, dando seguimento ao processo. Segundo os cientistas, a instalação piloto do projeto terá capacidade para remover mais de 100 toneladas de gás por ano e utilizará apenas energia eólica em seus equipamentos.

Parece estranho, não é? Mas, ao que tudo indica, em breve, veremos engenhocas desse tipo instaladas em muitos lugares, ajudando a manter a temperatura da Terra em um nível que nos garanta um futuro sustentável.

Fontes:

Pesquisadores testam tecnologia que captura dióxido de carbono da atmosfera
Sequestro de carbono: o que é e como ocorre
A tecnologia que promete remover CO2 do ar e transformar em pó
6 maneiras de retirar gás carbônico da atmosfera
O papel das florestas no ciclo do carbono
Atmosfera terrestre: composição e alterações provocadas pela poluição
A atmosfera
Dióxido de carbono
Essa startup suíça retira CO2 do ar. E acaba de captar US$ 76 milhões
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