A soja em tempos de guerra
5 maio, 2022
OXMA

Nesses últimos meses, você deve ter notado que o preço do óleo de soja vem subindo bastante nas prateleiras do supermercado, num ritmo bem acima da inflação – que hoje é estimada em cerca de 1% ao mês. E provavelmente ouviu ou leu que esse aumento tem como causa a guerra que acontece na Ucrânia. Mas, como nem esse país – nem a Rússia, que ao invadi-lo iniciou o conflito – são produtores de soja, pode estar se perguntando o que uma coisa tem a ver com a outra. Neste post, tentamos explicar melhor essa situação.

Antes de ir em frente, vale lembrar que, aqui no Brasil, o óleo de soja é o tipo de gordura vegetal mais usado na cozinha, sendo fundamental para o nosso clássico refogado, o toque de sabor característico da culinária por aqui. E um dos motivos de ser tão popular é (ou era) justamente o fato de ser bem mais acessível que outros produtos, como os derivados de milho e de girassol e o azeite de oliva. Hoje, porém, com quase 25% de aumento em um ano, essa diferença caiu bastante e o chamado “óleo de cozinha” entrou para o patamar dos ingredientes caros na lista de compras. E, como ele faz parte da chamada “cesta básica”, esse encarecimento tem reflexos diretos sobre o índice de inflação no país.

Os combustíveis para os preços altos

Na prática, o que está fazendo com que o óleo de soja aumente tanto de preço não é uma causa isolada, mas um conjunto de motivos, algo que os economistas costumam chamar de conjuntura ou contexto. Um cenário (outro termo que faz parte do economês) que, com a globalização, inclui diversos fatores e “atores”. A começar pela China, mercado e agente gigante, que tem grande influência no comércio internacional.

Nos últimos seis meses pelo menos, os chineses vêm comprando volumes maiores de soja do que sua média. Isso porque precisam recompor os estoques desse grão, que entre outras funções, é usado para alimentar os suínos – uma das principais fontes de carne daquele país. Pela conhecida Lei da Oferta e da Procura, dá para entender que isso cria uma pressão no mercado internacional, valorizando esse produto. E, para complicar, houve queda na produção mundial da soja, assim como de outros grãos, nas últimas safras. Especialmente na América do Sul, por conta da falta de chuvas (olhem as mudanças climáticas aí…), inclusive aqui no Brasil.

E a Ucrânia?

A Ucrânia é uma das maiores produtoras e exportadoras mundiais de óleo de girassol, tendo como principal cliente (adivinhe só…) a China, que passou, então, ter de substitui-lo por óleo de soja, aumentando ainda mais suas compras de outros países, especialmente sul-americanos. A Índia, outro grande cliente ucraniano, fez o mesmo.

Além disso, a Ucrânia e a Rússia têm papel de destaque no mercado internacional de milho (do qual também se faz óleo comestível) e trigo, como grandes produtores e exportadores. Com a guerra, essa exportação foi seriamente afetada e, também, surgiu uma grande incerteza sobre como e quando esse fluxo comercial será reestabelecido. E esses fatores acabam por influenciar o mercado de commodities – basicamente, matérias-primas, no caso, agrícolas – como um todo, pois quando há insegurança, a tendência é que mais países e organizações procurem aumentar seus estoques, aumentando a demanda que, por sua vez, empurra os preços para cima.

A tendência é que, com o fim do conflito na Europa e a recuperação da produção agrícola nas próximas safras, o custo dos grãos – incluindo a soja – tenham redução. Mas, segundo especialistas, ainda assim será difícil que retomem os patamares anteriores a 2021. Um outro fator que pode fazer o preço da soja baixar é a cotação do dólar. Como todas as commodities, ela é negociada tendo por base a moeda norte-americana. Se o Real se valorizar, teremos óleo de cozinha mais barato.

Fontes:
Com guerra na Ucrânia, trigo, milho e soja batem recordes de preços, diz consultoria
Guerra na Ucrânia afeta preços de commodities agrícolas, segundo Ipea
ECONOMIAAumento do óleo de soja: qual a relação com a guerra na Ucrânia?

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