Biodiesel: menos petróleo, mais soja (e menos emissões)
14 abr, 2022
OXMA

O biodiesel é um dos chamados biocombustíveis, produzidos a partir de matérias-primas vivas – e não de petróleo ou elementos sintéticos (saiba mais sobre biocombustíveis neste post: https://oxma.eco.br/voce-sabe-o-que-sao-biocombustiveis/). Em 2021, o Brasil foi o segundo maior produtor e consumidor de biocombustíveis no mundo. Só como comparação, em 2021, nosso país foi o 7º maior produtor e exportador de petróleo e, hoje temos o quarto maior mercado de combustíveis automotivos do planeta. Neste post, falamos um pouco sobre a importância desse produto estratégico para a transição energética para um modelo mais sustentável, aqui e globalmente

Difícil pensar em transporte no Brasil hoje, seja de cargas ou de pessoas, sem associar a ele motores movidos a óleo diesel. Caminhões, locomotivas e ônibus, em sua imensa maioria, utilizam esse combustível. A produção e queima desse derivado de petróleo, no entanto, está entre as grandes fontes de emissões de carbono na atmosfera. Além disso, por sua origem, ele torna a maior parte das cadeias logísticas do país refém dos humores da cotação internacional do chamado ouro negro, com reflexos na inflação, o que influencia diretamente a vida de todos nós. Mas se a solução definitiva para esses péssimos efeitos colaterais do diesel – a transição energética, com a eletrificação do transporte – é cara e demorada, substituí-lo, ainda que em parte, por outro produto, mais sustentável, pode ser bem mais simples, barato e rápido. E é aí que entra o biodiesel.

RenovaBio, a estratégia brasileira

Para regular e estimular a substituição dos derivados de petróleo e com inspiração nos modelos utilizados nos EUA e na União Europeia, foi estruturado aqui no Brasil o RenovaBio. Formalizado por uma lei (a nº 13.576/2017) ele define a política brasileira para os biocombustíveis – entre eles, etanol, biodiesel, biometano e bioquerosene. Sem nos aprofundarmos muito, podemos dizer que ele leva em conta tanto os aspectos ambientais quanto econômicos com o objetivo de “viabilizar uma oferta de energia cada vez mais sustentável, competitiva e segura”, segundo o Ministério das Minas e Energia, ao qual está relacionado.

É o RenovaBio que hoje estabelece, por exemplo, a estratégia sobre os percentuais de combustíveis cultivados que são e serão acrescentados ao diesel, gasolina e querosene (usado em aviões), definindo um cronograma de metas para que esses índices sejam atingidos. No caso do biodiesel, a obrigatoriedade de adicioná-lo já havia sido regulamentada em 2005, por outra lei, n° 11.097/2005. Ela definiu que seu percentual de mistura partisse de 2% em 2008 para 13% em 2021 – embora, por conta da conjuntura econômica, tenha sido provisoriamente recuado pelo governo para 10% no final do ano passado.

O motivo para esse percentual subir tão lentamente é dar tempo, tanto para que a produção nacional possa acompanhar esse crescimento, quanto para que a própria indústria de veículos possa fazer as adaptações necessárias nos motores. E é assim que tem acontecido, com investimentos em cultivo – principalmente de soja, que é responsável por mais de 70% da matéria-prima usada na fabricação desse combustível. Vale lembrar que ele também é produzido a partir de outras culturas, como a de algodão e, em quantidades menores, por óleos usados reciclados, como o coletado em cozinhas, industriais e domésticas.

O tempo também é necessário para a ampliação e instalação de novas unidades de produção: hoje, chegamos no Brasil a 70 usinas para a produção de biodiesel. Em 2021, elas produziram cerca de 6,8 bilhões de litros, movimentando algo como R$ 10,5 bilhões. E, no mesmo ano, as 13 maiores produtoras nacionais de biodiesel foram as empresas Bsbios, Granol, Potencial, ADM, Caramuru, Olfar, Oleoplan Veranópolis (Sul), Pbio, Cofco, Oleoplan Iraquara (Nordeste), JBS, Bianchini e Cargill; cada uma delas responsável por, no mínimo, 3% do total produzido no país. Além do mercado interno, esses grandes produtores miram, também, clientes globais para exportação.

Em 2021, atrás apenas dos EUA, nosso país foi o segundo maior produtor e consumidor de biocombustíveis no mundo (somos o quarto maior mercado de combustíveis automotivos, como um todo). Especificamente em relação ao biodiesel, o Brasil é hoje o terceiro maior produtor, ficando atrás da líder Indonésia – que já adiciona 30% do produto ao diesel de petróleo – e dos EUA. Mas esse combustível também já é amplamente utilizado na Europa, principalmente na Alemanha e na França.

E o futuro?

Como reduz em até 70% a produção de CO2 pelos motores em que é utilizado e vem de uma fonte renovável, o biodiesel é considerado fundamental para a redução das emissões dos gases causadores do efeito estufa (GEE), contribuindo para que os países consigam cumprir as metas com as quais se comprometeram globalmente. Não por acaso, a tendência é de que tanto a produção quanto o consumo desse produto sigam em crescimento significativo durante a próxima década.

No caso do Brasil especificamente, o compromisso é de diminuir em 50% essas emissões até 2030. De acordo com o Balanço Energético Nacional (BEN 2021), 48% da energia daqui vem de fontes renováveis – segundo o mesmo documento, no mundo essa média é de apenas 14%. Mas, além do impacto ambiental positivo, melhorar esse índice significa gerar divisas no mercado de crédito de descarbonização. Créditos assim, como os chamados CBIOs, que emitidos por produtores certificados de biocombustíveis equivalem a cada tonelada de CO2 evitada e são ativos financeiros negociáveis em bolsas de valores. Segundo o Ministério de Minas e Energia, em 2020, foram negociados 14,9 milhões de CBIOs e, para este ano, a projeção é de 35,98 milhões, chegando a perto de 59 milhões em 2025.

Para encerrar este já longo post, uma última novidade em relação ao biodiesel: além dos caminhões, ônibus e locomotivas, em breve a demanda por esse produto deve crescer significativamente graças a um outro importante tipo de transporte, os navios, hoje responsáveis por mais de 3% das emissões globais. Grandes produtores estão desenvolvendo um novo tipo de bunker (nome do combustível utilizado no transporte marítimo), que tem em sua composição um percentual de biodiesel. Recentemente, a portuguesa Prio, por exemplo, anunciou o lançamento de um “bunker verde”, que contém 15% desse biocombustível. Ou seja, em breve, o óleo usado de sua cozinha poderá muito bem-estar movimentando um transatlântico do outro lado do planeta.

Fontes:
As usinas de Biodiesel do Brasil
RenovaBio
Produção de biocombustíveis é peça-chave para economia verde no país
Biodiesel no Mundo
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