Fertilizantes: os orgânicos podem substituir os minerais importados?
Assim como inúmeros outros países, o Brasil está sofrendo “efeitos colaterais” da guerra entre Rússia e Ucrânia. Entre esses efeitos, um dos que mais tem preocupado é a interrupção das exportações russas de fertilizantes para o nosso país. O problema é que somos o maior importador global desses insumos e seu quarto maior consumidor, ficando atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos. Do que usamos, 85% vem de fora, sendo 23% desses da Rússia. Será que há alguma maneira de substituirmos esses produtos? Quem sabe técnicas de agricultura orgânica? É sobre isso que falamos neste post.
Segundo o Embrapa, os fertilizantes são usados principalmente em grandes plantações, justamente as mais ligadas à pauta de exportações brasileiras, como as de soja (a que mais consome esses produtos), a cana-de-açúcar, o milho e o algodão – responsáveis pelo consumo de nada menos que 90% de todos os insumos desse tipo, importados ou produzidos aqui. Lembrando que, como contamos no post sobre a soja <https://oxma.eco.br/soja-como-e-produzida/>, o Brasil é hoje o seu maior produtor mundial, com 135,409 milhões de toneladas em 2021, colhidos em 38,502 milhões de hectares.
Resumindo, o papel desses fertilizantes é fornecer nutrientes à terra que será usada para a agricultura, criando as condições ideais para que o que se pretende plantar ali se desenvolva da melhor maneira possível, em termos de tempo, aproveitamento do solo, qualidade etc. Para isso, claro, o ideal é que, antes, seja feita uma análise desse solo, para poder selecionar e dosar os componentes extras que serão usados. E aqui vale lembrar que fertilizante e defensivos agrícolas – os também chamados agrotóxicos – são coisas diferentes e que os segundos sevem para evitar pragas. Ainda assim, dependendo das circunstâncias e intensidade de uso, os fertilizantes preparados em indústrias podem interferir e causar desequilíbrios no meio ambiente em que são usados.
Entre os fertilizantes mais usados, estão nitrogênio, fósforo e potássio – mas há muitos outros, minerais especialmente. São substâncias que existem na natureza, importantes para o desenvolvimento das plantas, mas que nem sempre estão presentes nos lugares em que se quer produzir alguma safra, muito menos na proporção ideal, especialmente quando se trata de grandes extensões de terreno, como as usadas na soja. Para produzir esses fertilizantes, são utilizados principalmente materiais extraídos de jazidas em grandes minas e, também, alguns processos químicos (com o gás de petróleo, por exemplo).
E os orgânicos?
Muitas dessas substâncias podem, também, ser “reforçadas” na terra com o uso de compostos orgânicos, como aqueles produzidos em compostagem. Resumidamente, compostagem é aquele processo biológico de decomposição, que recicla que utiliza matéria orgânica – como restos de frutas, legumes, verduras e fezes de alguns animais herbívoros, como a galinha e o gado, por exemplo – e que gera, entre outras coisas, o húmus, uma espécie de “terra preta” que é ótima para nutrir as plantas. Além disso, por se tratar de um produto totalmente natural, seu impacto no meio ambiente é mínimo ou nenhum.
Os alimentos vegetais orgânicos são produtos que foram adubados (ou “alimentados”) apenas com esse tipo de fertilizante natural – além de não terem recebido os tais defensivos, mas isso já é assunto para outro post. E, antes que você pergunte, sim, é perfeitamente possível produzir praticamente todos os tipos de alimentos cultiváveis usando apenas compostos orgânicos para fertilizá-los – afinal, a natureza já faz isso desde que a vida surgiu na Terra.
Então porque não usar somente os orgânicos?
Pensando apenas em termos de produtividade, é muito difícil obter os mesmos resultados, em termos de volume, tempo de cultivo e padrão que se consegue com os fertilizantes preparados artificialmente. Além disso, a produção de compostos orgânicos por compostagem é mais lenta e, pelo menos hoje em dia, dificilmente teria como atender às necessidades das tais mega-lavouras como as de soja, milho e algodão. Para isso, seria necessário criar toda uma estrutura de reciclagem, com grandes usinas para a decomposição e processamento da matéria orgânica, que teria de ser recolhida e, durante todo o processo, desde a origem, controlada para não sofrer contaminações, por exemplo.
Não por acaso, o uso de compostos orgânicos é, hoje e sempre, muito mais comum em pequenas lavouras – das quais, aliás, vem a imensa maioria dos alimentos que nós, brasileiros, consumimos em nossas casas. Nesse tipo de agricultura, é bem mais simples e até vantajosos utilizar o processo orgânico ou, no mínimo, combinar os dois tipos de adubação.
Como dá para perceber, não há uma solução rápida, mágica, para substituir os fertilizantes importados. Neste momento, para evitar que os grandes produtores nacionais de itens importantes em nossa pauta de exportações sejam obrigados a reduzir suas safras, o governo e as entidades desse setor estão buscando outros fornecedores – como o Canadá – dos quais possam comprar esses produtos. O “susto” de agora, porém, pode servir de estímulo para que toda uma nova política em relação a esse tema seja pensada e posta em prática, envolvendo tanto a produção local desses fertilizantes, quanto – e porque não? – o desenvolvimento de estruturas para que os compostos orgânicos possam ser produzidos em quantidade suficiente para suprir, pelo menos, uma boa parte das necessidades no campo. A natureza e até a economia agradecem.
Fontes:
Guerra na Ucrânia será ‘catastrófica’ para alimentação global, diz gigante dos fertilizantes
O que define a agricultura orgânica?
Adubação no sistema orgânico de produção de hortaliças
Adubação orgânica – Introdução e vantagens
Cultura orgânica substitui adubo químico por naturais
Quais os tipos de fertilizantes mais usados na agricultura?
O que é compostagem e qual sua importância para o meio ambiente?