Microplásticos, preciso me preocupar?
19 abr, 2022
OXMA

Você provavelmente já ouviu falar em microplásticos, as partículas com menos de um milímetro de tamanho e que, são um grande problema ambiental. Elas têm como origem diversos tipos de produtos feitos – claro – a base de plástico, como garrafas, embalagens e tecidos sintéticos. Embora haja registros de sua presença nos oceanos da década de 1970, somente no começo deste século eles ganharam mais destaque nas pesquisas científicas, espaço nos meios de comunicação e se transformaram em motivo de grande preocupação para a humanidade. Isso porque, hoje, os microplásticos podem ser encontrados literalmente em toda parte, do mais remoto ponto no oceano às nossas veias e artérias.

A principal diferença entre a poluição causada pelo plástico em si e o microplástico está justamente na facilidade com que este segundo se espalha e contamina os diversos tipos de ambientes e seres vivos. Em parte, ele vem justamente da degradação do plástico, produzido em escalas cada vez maiores e muitas vezes descartado de forma errada no meio ambiente. Composto de polímeros, como polipropileno, polietileno, policloreto de vinila e poliestireno, esse plástico se desmancha em pedaços bem pequenos, sendo carregado por cursos de água e correntes marinhas e se espalhando por diversos ecossistemas, onde acaba contaminando plantas e outros seres vivos. Exemplificando para simplificar: uma planta que absorve o microplástico acaba sendo comida por um peixe, que vai ser comido por outro maior – ou então pescado e consumido por nós, humanos.

E se até não faz muito tempo se pensava que essa contaminação mais expressiva acontecia somente pela água, hoje sabemos que ela também acontece através do ar que todos respiramos. Ela pode ter origem em fontes insuspeitas, como o desgaste de objetos domésticos, pneus de carro, incineração de lixo, pós abrasivos usados para limpeza ou na indústria, lama seca… E, em grande parte, também, vem dos tecidos sintéticos usados em roupas, como o poliéster. Na forma de microfibras, essas partículas se soltam durante a lavagem das roupas, ou simplesmente pelo atrito natural com o corpo no uso.

Segundo uma pesquisa feita pela Universidade de Hong Kong, uma secadora de roupas é capaz de liberar anualmente cerca de 120 metros de microfibras sintéticas no ar. Os tecidos que têm origem orgânica, como o algodão, também soltam essas fibras, mas, nesse caso, elas são biodegradáveis e podem ser digeridas por animais sem nenhum dano.

Embora não se tenha ainda uma noção exata dos problemas que respirar ou ingerir esses microrresíduos plásticos pode causar a nossa saúde, sua presença no organismo já foi confirmada ao nível sanguíneo por pesquisadores. E já sabemos que provocam alguns efeitos gerais, como o retardamento e a diminuição do crescimento das plantas (o que prejudica a produção de alimentos) e alteração no organismo de vários animais, incluindo mutações em insetos. Além disso, eles são capazes de funcionar como “meios de transporte” para uma infinidade de outras substâncias, como resíduos tóxicos que aderem a eles.

Para evitar toda essa contaminação, é claro, a solução mais óbvia seria simplesmente parar de usar os plásticos e as substâncias que causam sua dispersão – o que não é algo simples, pois eles estão presentes em praticamente tudo o que utilizamos atualmente. Além disso, mesmo que a contaminação parasse de ocorrer, seriam necessários muitos séculos até que essas substâncias fossem degradadas ou neutralizadas na natureza. Precisamos, portanto, aprender a reduzir seus impactos e efeitos e, com planejamento, iniciar uma transição para outros tipos de matérias-primas mais sustentáveis. E, também, desenvolver meios para retirar esses resíduos da atmosfera e das águas, claro. O primeiro passo para isso é a conscientização.

As soluções começam a surgir

Como você já deve estar concluindo a esta altura, uma solução para esse problema não é nada simples e não vai gerar resultados da noite para o dia. Mas já há alguns indicativos promissores. No Laboratório Marinho de Plymouth, Reino Unido, cientistas descobriram que os mexilhões do mar podem ser grandes aliados para retirar microplásticos da água do mar. Segundo suas pesquisas, um conjunto de 300 desses bichinhos de concha é capaz de filtrar até 250 mil partículas de plástico a cada hora. O material é “processado” e eliminado nas fezes dos mariscos, que por sua vez boiam na superfície da água, de onde podem ser recolhidas.

Experiências no mesmo sentido estão sendo feitas na Universidade Estadual de Tarleton, no Texas (EUA), utilizando, vejam só, a baba de quiabo, que é capaz de atrair e aglutinar esses contaminantes, também facilitando seu recolhimento.

E as soluções podem vir, também, de jovens cientistas, como o estudante irlandês que desenvolveu um método para atrair os microplásticos com uma espécie de ímã – veja aqui um vídeo sobre este projeto (em inglês) https://youtu.be/akCjg2s7xrs. Já o brasileiro Gabriel Fernandes Mello Ferreira criou um sistema barato capaz de filtrar a água, retirando dela os microplásticos, utilizando uma malha de nylon. Algo que poderia ser facilmente instalado nas estações de tratamento de água e que, segundo o jovem inventor, teria um custo muito baixo. São as novas gerações trabalhando por um futuro mais sustentável.

Fontes:
A ameaça dos microplásticos
Artigo revisa dados sobre microplásticos no ar e aponta riscos à saúde
Microplásticos: principais poluentes dos oceanos
To remove microplastics from drinking water… just add okra?
Microplásticos são encontrados no sangue humano pela primeira vez
Pela primeira vez, cientistas detectam microplásticos no sangue humano
Composição do ar e impurezas

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